quinta-feira, 11 de novembro de 2010
A alma dos gestos
Estava no ônibus, numa jornada de retorno ao lar, quando em deparei com um tipo de ser estranho: as pessoas. Uma definição perfeita para elas seria um elemento: ar. Talvez, cometo um exagero de profundidade e consistência. Mas, para a infelicidade do ar, assim, se define o cidadão da contemporaneidade: sempre no fim, preocupadas com o tudo, eles querem como o ar, em todas as partes esta. Contudo, o que estar em tudo, não está em nenhum lugar em particular. Essa é a preocupação das pessoas, aérea, nada que transborde a estratosfera de nossa era. E bailando nesse banho de vacuidão, se batendo vão. Como os vermes sem uma asa, a outra se amassa em gestos, e vão se debatendo, como os pés dos enforcados, como as mãos dos afogados, como os olhos dos asfixiados. Falam rebolando, requebrando, para transparecer o que eles no fundo querem esconder, o seu verdadeiro vazio ser. Todos ficam perdidos, hipnotizados no sambar falacioso dos gestos, esquecem-se de procurar o lá tem de verdadeiros méritos. Levam como verdadeiros os movimentos que vêem derradeiros. São para enganar a vacuidade lá estava presente em toda idade. Eles não sabem interpretar, não sabem enganar, nem sabem encenar. É um novo contrato social, do me finge que me engana que eu finjo acreditar. Não sabem imaginar, nem sabem criar, nem mesmo imitar. Por quê? Eles não acreditam no que fazem. Uma corja de deprimidos, sonhos não ocorridos, em nome de está numa estatal e currículo, perdem o senso do ridículo. E quem nos ensinaria a mudar esse vazio de interior e gestual? Ah, os mímicos! É horrível que isso seja permissível! Onde estão nossos mímicos? Aqueles que ensinam a nós a criar e recriar a realidade, e, fazer realmente do nada uma creation ex nihilo. Ensinam-nos a rir, chorar, calar, ir e vir, e, não fazem isso em tagarelices cheias de imundices. Ao contrário de como fazem os que com gritos e gestos vazios, fazem os outros viverem o inferno de eternamente trair o movimento, (fato que me fez colocar Dante no Inferno http://diariodomisantropo.blogspot.com/2010/10/movimento-de-dante-para-o-inferno.html). Por isso apelo um socorro para todo mímico: Socorro, nós estamos pagando mico!
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Parece que as pessoas têm preguiça de pensar. Ficam repetindo esses mesmos gestos, as mesmas piadas, as mesmas idéias, os mesmos assuntos, como uma forma de se conformar e tornar um dia igual ao outro, cada vez mais. É uma robotização universal, e podemos estar fazendo parte dela até mesmo sem perceber... Afinal, com todas essas preocupações que o mundo joga em cima da gente, e que nos obrigam a, realmente, querer estar em todos os lugares ao mesmo tempo, mecanizar a própria personalidade, a própria forma de lidar com o mundo e os próprios sentimentos parece ser uma saída fácil para não criar mais problemas - que seriam, nesse caso os existenciais...
ResponderExcluirContinua postando aí! /o/
Hum, gostei do texto!
ResponderExcluirEngraçado que mesmo em meio a tantas tentativas de naturalidade, é divertido reparar no comportamento dos outros e de certa forma a maioria não consegue disfarçar o desconforto...E quando não é divertido é óbvio.
Lembro de uma vez muito engraçada que eu voltava da escola para casa e tinha uma menina que sempre voltava toda empiriquitada e estática e arrodeada de omis - acho que o cobrador tirava onda também - (a bichinha), daí entrou um boy desses bem malandro de rua e ficou tentando beijar a menina e disse no final "tú é feia, tem jeito não".
Todos que já conhecia a menina e tava lá na hora meio que olhou assim com um certo terror :O
Todos já sabiam que ela era feia, mas tentavam disfarçar do mesmo jeito e tiravam proveito da disposição as aparencias, ate meio vulgar... E o boy ainda se deu mal, quase foi lixado... hehehe
É bom demais quando tem esses elementos surpresa, querendo ou não, a garota teve uma oportunidade de acreditar que aquelas tranças pregada na testa e o batom vermelho estavam sendo desfavoraveis, uma boa oportunidade de lavar a cara e enfrentar a si mesma.
Mas acredito também que seja um desafio e que de certa forma a sociedade não apoia.
mahuahuuahhuahu
ResponderExcluirseu ladrao de pensamentos!
mahuhauhuaa
dessa vez eu deixo passar sem direitos autorais!
mas vc definiu perfetitamente esse povo nojento quer estar em todas as partes, competindo com o ar!
assim como as pessoas vazias q nao calam a boca querendo parecer o que definitavmente nao sao achando que vao ter alguma merda de status ou ganhar uma medalha, alguma porra assim.
mas vc descreveu melhor mauhahua muuuito bom parabens!
Notas de um observador:
ResponderExcluirExistem milhões de insetos almáticos.
Alguns rastejam, outros poucos correm.
A maioria prefere não se mexer.
Grandes e pequenos.
Redondos e triangulares,
de qualquer forma são todos quadrados.
Ovários, oriundos de variadas raízes radicais.
Ramificações da célula rainha.
Desprovidos de asas,
não voam nem nadam.
Possuem vida, mas não sabem.
Duvidam do corpo,
queimam seus filmes e suas floras.
Para eles, tudo é capaz de ser impossível.
Alimentam-se de nós, nossa paz e ciência.
Regurgitam assuntos e sintomas.
Avoam e bebericam sobre as fezes.
Descansam sobre a carniça,
repousam-se no lodo,
lactobacilos vomitados sonhando espermatozóides que não são.
Assim são os insetos interiores.
A futilidade encarrega-se de maestra-los.
São inóspitos, nocivos, poluentes.
Abusam da própria miséria intelectual,
das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia.
O veneno se refugia no espelho do armário.
Antes do sono, o beijo de boa noite.
Antes da insônia, a benção.
Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa.
A família.
São soníferos, chagas sem curas.
Não reproduzem, são inférteis, infiéis, in(f)vertebrados.
Arrancam as cabeças de suas fêmeas,
Cortam os troncos,
Urinam nos rios e nas somas dos desagravos, greves e desapegos.
Esquecem-se de si.
Pontuam-se
A cria que se crie, a dona que se dane.
Os insetos interiores proliferam-se assim:
Na morte e na merda.
Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estômago.
Uma sensação de: o que é mesmo que se passa?
Um certo estado de humilhação conformada o que parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.
Silenciam-se no holocausto da subserviência
O organismo não se anima mais.
E assim, animais ou menos assim,
Descompromissados com o próprio rumo.
Desprovidos de caráter e coragem,
Desatentos ao próprio tesouro...caem.
Desacordam todos os dias,
não mensuram suas perdas e imposturas.
Não almejam, não alma, já não mais amor.
Assim são os insetos interiores.
Olá, meu caro!
ResponderExcluirAdorei o texto. É o famoso mundo ilusório e a tentativa de enganar a si mesmo.
Parabéns pelas idéias e críticas.
Um forte abraço =)
www.nicellealmeida.blogspot.com
Sem dúvidas, o texto q mais gostei... Descrição minuciosa e própria do q somos!!!
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